segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Curupira

O Curupira é tido como o mais antigo goblin brasílico. A mais antiga menção documentada de seu nome é de 30 de Maio de 1560, pelo Pe. José de Anchieta:

"É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios que os brasis chamam Corupira, que acometem aos índios, muitas vezes, no mato, dão-lhes açoites, machucam-nos e matam-nos.

São testemunhas disto, os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles.

Por isso, costumam os índios deixar, em certo caminho, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume das mais altas montanhas, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes, como uma espécie de oblação, rogando, fervorosamente, aos corupiras, que não lhes façam mal.”

Nenhum outro goblin brasileiro havia determinado uma oferenda propiciatória, até então.



Da criatura informe e sinistra do relato de Anchieta, logo passou a ser representado como um anão (ou duende), de cabelos vermelhos (ruivos ou como que "pegando fogo") e com os pés invertidos, com os calcanhares pra frente. As menções clássicas a essa deformidade vem de Aulo Gélio (125 a.C. - 180 a.C.) em seu "Noites Áticas" e por Santo Agostinho em "De Civitate Dei" onde é citado o nome erudito dessa anomalia: Opistópodos!

Segundo Câmara Cascudo, em sua Geografia dos Mitos Brasileiros: "(...) vigiando árvores, dirigindo as manadas de porcos do mato, veados e pacas, assobiando estridentemente, passa a figura esguia e torta do Curupira, o mais vivo dos duendes da floresta tropical."

Curupira significa para muitos "Aquele que tem corpo de menino", de curu, contração de curumi, menino em nheengatu; e pira, corpo. O Curupira, assim como o Kurupi paraguaio é um anão ou duende de cabelos vermelhos. O Kurupi pode ter ou não os pés virados pra trás, mas tem uma grande diferença em relação ao Curupira: Um pênis gigantesco que ele leva enrolado na cintura e usa pra laçar e violentar donzelas indefesas que saiam pra caminhar sozinhas pelo mato.

Em algumas versões brasileiras o Curupira também tem um pênis avantajado que ele usa como tacape pra bater nos troncos de sapopema, antes das tempestades, pra ver se as árvores vão resistir ao temporal. Em outras versões ele usa um machado feito de casco de yautí (jabuti) ou os calcanhares invertidos.

Como protetor das florestas, castiga impiedosamente aquele que caça por prazer, que mata as fêmeas prenhes e os filhotes indefesos, mas ampara o caçador que tem na caça seu único recurso alimentar, ou que abate um animal por verdadeira necessidade. 

No trabalho de Kreüther Pereira, encontramos os seguintes nomes e grafias: cayapóra, cayapora, kaápora, caipora, jurupari, anhangá, koropyra, curupira, currupira, tatacy, çacy, saci, sacipererê, sacy-cererê, maty, matinta, matinta pereira, mati-taperê ou simplesmente sererê. 

"O que queremos mostrar é a dificuldade para se dar a esse mito um contorno definido e esclarecer as funções da divindade. E é exatamente aí o fulcro da confusão que coloca o Caapora, o Curupira e o Saci, como uma só entidade. Embora exista uma diferença estrutural evidente entre Caapora e Çacy, ambos são membros da mesma família. O vocábulo Caápora, ligado à imagem de protetor, função exercida pelo Curupira e pelo Saci, na nossa opinião, é o verdadeiro foco da confusão." 

Além dos caracteres físicos, diferem também nos etimológicos: caá significa mato e Cy, mãe, portanto Çacy é Mãe do Mato; enquanto Caá-pora significa, morador da mata.



Gonçalves Dias descreve na figura do Caapora, o duende que conhecemos como Curupira:

"O Caapora veste as feições de um índio anão de estatura, com armas proporcionais ao seu tamanho; habita o tronco das árvores carcomidas onde atrai os meninos que encontra desgarrados na floresta, outras vezes divaga sobre um tapir ou governa uma vara de infinitos caitetus, cavalgando o maior deles. Os vaga-lumes são seus batedores, é tão forte seu condão que o índio que por desgraça o avistasse era mal sucedido em todos os seus passos. Daqui vem chamar-se Caipora ao homem a que tudo se dá ao contrário."

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